LUBRU - Nova Necrópole São Paulo

Diversas foram as formas e representações construídas pelos homens diante da morte. Mesmo sendo um fato concreto e singular da vida, a temática permite interpretações variadas por aqueles que procuram analisar esse assunto sempre presente em diferentes sociedades ao longo do tempo. A relação do homem com a morte tem sofrido variações ao longo da história, revelando, assim, sua cultura através de suas práticas funerárias, arquitetura e cidades. As construções funerárias estabelecem vínculos entre passado e presente, evidenciando uma das formas como cada sociedade operava e mantém sua tradição em relação às incertezas e incógnitas relacionadas à morte.

O estudo arqueológico e arquitetônico/urbanístico da dita “cidade dos mortos” vem servindo de base referencial para muitos estudiosos, possibilitando a compreensão de sistemas culturais não mais existentes e também analogias com o tempo atual, que nos permitem compreender melhor nossa própria cidade (cidade dos vivos), na história e na contemporaneidade.

A partir do aparato histórico, pude observar que, o período em que os cemitérios ainda se encontram no seio das cidades medievas é exatamente o período de maior agitação e, consequentemente, o de maior degradação desses espaços. O “descanso em paz” dos mortos só virá a partir do momento em que esses são levados para alem dos limites das cidades por parte dos higienistas no período do iluminismo. Porém, os cemitérios que há alguns séculos se encontravam distantes da população, atualmente, acham-se novamente no meio das cidades, devido à urbanização acelerada e desordenada pelas quais passaram.

Essa espécie de “retorno às origens” faz com que novamente sejamos levados a nos questionar quanto ao tipo de relação que temos como esses espaços que, como veremos a seguir, tanto afetam como são afetados pela população adjacente.

Muito tem se discutido à respeito do que fazer, no âmbito urbano, para reintegrar nossas obsoletas zonas industriais ao restante da cidade, torna-las compatíveis com o que se espera de nossa cidade no futuro. Agora... de quando data o modelo de cemitério que temos em nossa cidade? Ele é compatível com a ideia de cidade que queremos? Por quanto tempo, ainda, ficarão eles excluídos das mudanças que ocorrem na metrópole?

São Paulo conta hoje com 40 cemitérios espalhados pela cidade, todos bem localizados, inseridos em glebas consideráveis e entorno consolidado. As problemáticas técnicas, de viés sanitário, são conhecidas e já bastante discutidas. Porém, pouco se considera o potencial de nossos cemitérios como elementos possíveis de serem inseridos, ou reinseridos, em nosso cotidiano por meio de uma total integração com seu meio urbano adjacente.

Crematório | Programa Cemitério Vertical | Programa

Estacionamento Público Acesso ao Público

Acesso ao Público (jardim) Hall de Espera

Hall de Espera Recepção

Recepção Banheiros

Banheiros Sala de Velório

Sala de Cerimônia (x4) Sala de Exumaçã

Sala de Cremanação (x4 fornos) Ala de Jazigos (5 pavs)

Sala de Controle Vestiários

Preparo de Urnas Administração

Armazém Frigorífico Staff

Área Técnica Terraço

Entrada de Carro Funerário Capela

Garagem (x4 Carros)

Hall de Recepção de Caixões

Sala de Embalsamento de Corpo

Vestiários

Staff

Administração

Urnas (estoque)

Átrio Interno

Loja (flores, urnas, etc.)

Para que o edifício não se tornasse uma barreira visual entre o fluxo da Rua Cardeal Arcoverde e o parque proposto, o projeto foi dividido em base e torre. A base age como elo de adequação do edifício com o terreno com 12% de inclinação e a torre é suspensa como que em pilotis, mas com uma espacialidade diferente da proposta convencional Corbusiana. A laje que cobre o térreo livre é inclinada, cria um ambiente diferenciado e tudo acontece, pois a inclinação da laje sugeriu uma volumetria também inclinada, mas não de fato, pois todos os pisos continuam na horizontal.

O partido estrutural nasce da tentativa de reforçar a ideia de que o objeto realmente se faz inclinado e uma malha diagonal em concreto armado acontece em volta do volume proposto que é coroado de forma mais orgânica, seguindo a mesma intenção da base que tem como partido formal as curvas de nível do terreno. Logo temos: Ossário no topo, Cemitério vertical no centro e Crematório na base. De posse do primeiro partido volumétrico, o mesmo foi inserido no contexto e várias alterações foram feitas. O volume pode ser considerado alto demais, não por ultrapassar os prédios adjacentes, mas por contrastar/destacar com o terreno de parque proposto (necessariamente horizontal). O rebaixamento do volume superior, tornou obrigatório deixar sua forma mais arredondada e aerodinâmica. Os círculos que se veem na imagem do meio (esquema 01) seriam hélices para geração de energia eólica, mas a ideia foi abandonada por possíveis problemas estruturais e falta de domínio da tecnologia. Na conclusão do edifício, a volumetria orgânica dos ossários foi retirada e posteriormente reposicionada em uma segunda volumetria no centro do terreno. Essa decisão se pautou não apenas na necessidade de diminuir a altura do cemitério vertical, mas também na premissa de que um segundo volume mais baixo contribuiria com o diálogo entre o cemitério vertical e o parque, e seria um grande agente na apropriação do publico do parque com o programa funerário.

A altura e inclinação da torre foram estipuladas com base em um diálogo visual com a Igreja do Calvário, já que terraços foram criados seguindo a inclinação do topo inclinado do edifício de modo a servirem como mirantes, tanto para o parque como para a própria igreja.